Page 96 - AMERICA DO SUL AEROSPOSTALE
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Sob sua pena de escritor, o momento torna-se épico e religioso: "Foi um
belo encontro, todos choramos, nos deparamos com nossos braços,
vivos, ressuscitados, autor de seu próprio milagre"
Emoção cem vezes compreensível. O risco no negócio de piloto é
então muito alto; aqueles que desapareceram são tão numerosos que
esse caso quase único de "ressurreição" só pode ser celebrado com
dignidade. Mas há algo mais que explica que, neste momento, e nos dez
anos que lhe restam para viver, Guillaumet se torna, com seu corpo
defensor, um herói.
O céu, para esses homens da primeira geração do 14-18 pós-guerra, é um
espaço no auge de seus desejos de heroísmo.
Eles tomaram a palavra Blaise Cendrars que sonhava em estender a 20
nacional (estrada da França) para a Terra do Fogo.
Sua frente é a linha mítica, essa bela linha reta pela qual o arquivo postal,
na posição 225, vai de Paris à Patagônia, passando pela costa africana,
pulando o Atlântico Sul sem se desviar para o Rio e Buenos Aires.
Saint-Exupéry, faz do céu o futuro de uma França ainda rural, onde o avião
é o arado, Mermoz "o pioneiro" e Guillaumet "o lavrador".
Uma "canção de gesto" dizia o escritor Joseph Kessel.
Sobrevive tão bem que o presidente Jacques Chirac decorou, cinquenta
anos depois, o valoroso caçador de pumas, cuja esposa recebeu o aviador
em sua cabana. Imediatamente tratado, geladora em seus pés, Henri
Guillaumet retomou seu serviço na linha.
Ele voou com hidroaviões gigantes na Air France.
Em 1936, ele procurou o avião Mermoz, que havia desaparecido sobre o
Atlântico Sul.
Devemos ter cuidado para não procurar "hierarquias", como costumava
dizer Saint-Exupéry. Como Guillaumet disse: "O que eu fiz, eu juro,
nunca teria feito qualquer animal”.
Os guanacos que ele encontra na Cordilheira se curvam sob a tempestade
e se movem rapidamente por grandes distâncias. O mesmo vale para os
iaques que passam pelas passagens do Himalaia, os ursos polares que
sobrevivem com o estômago vazio no inverno polar.