Page 91 - AMERICA DO SUL AEROSPOSTALE
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Narrativa.
Impulsionado por um forte vento de oeste, massas de ar úmido da corrida
do Pacífico pela Cordilheira dos Andes, quando o biplano decola do
aeroporto de Santiago do Chile às 8 horas da manhã de sexta-feira, 13 de
junho de 1930.
O pequeno Potez 25 da Aéropostale, onde o piloto teve dificuldade em
arrastar sua imponente carcaça e mala postal, sobe bravamente para
ganhar altitude.
Nos controles, Henri Guillaumet sente de humor agressivo. No dia anterior,
o "Santiajeu" ("Santiago Quinta-feira") perdeu um dia, mas os americanos
do Pan Air não voam esta manhã, é uma boa oportunidade para marcar
um ponto na competição. O motor de 450 cavalos Lorraine puxa o pequeno
avião através das nuvens, névoas de spray açoitam o para-brisa.
Logo, o ar se torna fresco nas bochechas, a luz atravessa as nuvens e o
avião emerge a pleno sol, a 6.000 metros de altitude.
No horizonte norte, as nuvens chegam a 8.000 ou 9.000 metros acima do
nível do mar, engolfando o maciço do Aconcágua. Na véspera, Guillaumet
teve que voltar nesta estrada, a rota usual, que segue a linha ferroviária
Transandino, passando pelo pico mais alto da América Latina.
Desta vez, ele tentará ir mais ao sul, em um setor com relevo do terreno
menos agressivo. Vulcões com formas arredondadas dominam um lago
escuro, "La Laguna Del Diamante". A rota foi reconhecida, mas é pouco
utilizada: a área é desabitada e, em caso de avaria, não há necessidade
de esperar.
Nesta sexta-feira, a meteorologia de Mendoza, o ponto de destino, diz "céu
coberto com buracos". No meio do inverno austral, a travessia promete ser
agitada. Mas Henri Guillaumet viu outros.
Aos vinte e oito anos, ele começou sua 92ª travessia da Cordilheira.
Embalado pela música de órgão do pequeno motor, ele se abandona à
monotonia do voo, procurando nas nuvens um buraco que forneça um
índice para sua posição.